Dupla viaja quatro dias de barco para jogar o Regional de futcegos

07/06/2022
Belém/PA

Desde a manhã desta terça-feira (7), todos os caminhos do futebol de cegos levam seus praticantes até o Pará, sede da décima edição do Regional Centro-Norte. Inclusive os caminhos pelo mar. Foi navegando por mais de quatro dias que a dupla Gabriel Brandão da Silva, de 26 anos, e Marlison dos Santos Duarte, de 29, concluiu o trajeto Manaus-Belém para defender a camisa da Udevima (União dos Deficientes Visuais de Manaus), uma das quatro equipes estreantes do torneio.

Os dois deixaram a capital do Amazonas por volta do meio-dia da última quarta-feira (1) e desembarcaram no Porto de Belém no comecinho da manhã de domingo. "Eu contei, no mínimo, sete paradas. Cada uma levava, pelo menos, uma hora. Só em Santarém, foram 18 horas", conta o manauara Gabriel, referindo-se à cidade localizada a quase 700 km da capital paraense.

"Para nós, da região, é um transporte comum até por conta da nossa localização geográfica. É uma aventura participar desse campeonato, temos limitações financeiras. Mas é muito importante porque praticar esporte é também provar para a sociedade nossa capacidade enquanto pessoa com deficiência", diz Marlison, que começou a jogar em 2014 e jamais havia estado em um torneio da CBDV (Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais). Ele é paraense de Alenquer, mas vive em Manaus.

As noites de sono foram em redes, algo também bastante comum para quem é da região. O que não estava nos planos foram os perrengues dentro da embarcação. "Achávamos que poderíamos pagar as coisas no Pix ou cartão. Não tínhamos dinheiro, então, tivemos de esperar umas 30 horas para poder comer pela primeira vez, quando saímos do barco e achamos um caixa eletrônico", relata Gabriel, praticante da modalidade há sete meses: "Nem sabia que existia campeonato de futebol de cegos", admite o camisa 5 da Udevima, o único de dez irmãos que é cego total – resultado de um acidente de carro sofrido aos 16 anos.

Já em quadra, com a bola de guizos nos pés, os obstáculos também se acumulam: falta entrosamento, ritmo de jogo, sintonia nos passes. Nada diferente do esperado a quem acaba de despontar no cenário do futebol de cegos brasileiro. Mas a vontade de acertar é mais forte. De certa forma, a viagem de barco acaba sendo uma metáfora do que acontece no jogo. "Tem pessoas que não acreditam na nossa capacidade. Na cozinha do barco, uma pessoa perguntou quem estava acompanhando a gente. Quando falei que estávamos sós, ela disse que tivemos sorte porque, se ela tivesse visto, não nos deixaria entrar. Aí eu falei que se isso acontecesse, ela sairia algemada de lá, porque eu chamaria a polícia. Então, quando eu falo que participar desse campeonato tem outros motivos, é também por situações como esta", finaliza Marlison, que nasceu com glaucoma congênito.

Estreantes têm vida difícil no primeiro dia

Do quarteto que faz neste Regional Centro-Norte sua primeira aparição na modalidade, ninguém venceu em quadra. A Udevima, da dupla Gabriel e Marlison, perdeu seu jogo para a AMC-MT: 1 a 0. A Adevibam (Associação dos Deficientes Visuais do Baixo e Médio Amazonas) perdeu seu primeiro confronto, para o Ismac-MS (2 a 0), e não compareceu ao segundo compromisso do dia, diante da Acelgo-GO, sem justificar a ausência conforme pede o regulamento. Com isso, ela foi eliminada da competição e a Acelgo ficou com os três pontos pela vitória por W.O.

Confira todos os resultados do primeiro dia e a programação completa da competição, já com a atualização de horários após a eliminação da Adevibam. 

O Regional Centro-Norte começou com nove equipes divididas em dois grupos. Todos jogam entre si dentro das chaves. Os dois melhores de cada grupo se cruzam nas semifinais. Além do título, o torneio vale duas vagas para a Série A e uma para a Série B do próximo Campeonato Brasileiro a quem já não esteja classificado. Dos nove listados, a AMC-MT e a UNIACE-DF já possuem vagas na elite e o Ismac-MS, na Segundona – se terminar entre os dois melhores, pula para a Série A.

Patrocínio

A Loterias Caixa é a patrocinadora oficial do futebol de cegos brasileiro.

Comunicação CBDV
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