CBDV Entrevista: Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional

CBDV Entrevista: Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional

por Comunicação CBDV — publicado 2020/04/24 00:00:00 GMT-3, Última modificação 2020-04-24T00:00:00-03:00
Dirigente fala sobre adiamento dos Jogos de Tóquio e cita 'satisfação em dobro' para os medalhistas no Japão

Por Comunicação CBDV
24/04/2020
São Paulo/SP

O adiamento dos Jogos de Tóquio para o ano que vem trouxe junto uma série de mudanças de planejamento para todos os envolvidos: federações, atletas e dirigentes. À frente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o brasileiro Andrew Parsons vem buscando equilibrar os fatores econômicos, organizacionais e, é claro, técnicos, para que a competição no Japão em 2021 seja bem-sucedida.

Em entrevista concedida para a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), o presidente do IPC contou até o que mudou no seu dia a dia em meio à pandemia do novo coronavírus: "Minha rotina é uma não rotina", confessa o dirigente, que acredita na Paralimpíada no seu mais elevado nível técnico no próximo ano e com um gosto em dobro para os medalhistas. Afinal, já terão superado um adversário invisível, o vírus, antes de subirem ao pódio. Confira a entrevista:


Quais são os maiores desafios do IPC a partir deste adiamento dos Jogos de Tóquio?

Os maiores desafios são, em primeiro lugar, tratar de todos os efeitos que esse adiamento causa, tanto em relação a instalações esportivas, não-esportivas e níveis de serviço. Estamos trabalhando com o Comitê Organizador em relação a tudo que envolve a realização dos Jogos como inicialmente planejado. Além disso, existe também a questão do fluxo de caixa. Assim como todas as organizações, também foi necessário apertar o cinto. Muitos parceiros nossos e detentores de direitos de transmissão querem efetuar pagamentos relacionados a Tóquio no ano que vem, então estamos trabalhando em relação a isso. Outro desafio é como podemos apoiar os membros, principalmente os comitês paralímpicos nacionais e federações internacionais mais frágeis, para que elas não sofram com o adiamento dos Jogos, principalmente na questão financeira. Muitas são apoiadas por governos nacionais, que também vão enfrentar dificuldades com uma provável recessão pós-pandemia.

Acredita que os atletas conseguirão chegar ao seu nível máximo de competitividade mesmo com essa mudança de um ano no planejamento?

Sabemos que esse era um ciclo de preparação que não foi inicialmente planejado para cinco anos. Mas acreditamos que, pelo fato de o adiamento ter sido anunciado com mais de 500 dias para o início dos Jogos, será possível uma adaptação aos treinamentos que fará com que tenhamos um nível alto de competitividade. Temos grandes treinadores nos comitês paralímpicos e federações nacionais que vão conseguir fazer com que os atletas cheguem em altíssimo nível aos Jogos de Tóquio.

O COI publicou que a data limite para classificação dos atletas será o dia 29 de junho de 2021. Isto vale também para os paralímpicos?

O impacto do adiamento dos Jogos atinge muitas áreas e a classificação é uma das principais. Embora muitos fatores ainda permaneçam desconhecidos, estamos trabalhando com o Comitê de Classificação para que as oportunidades de classificação possam recomeçar assim que as competições sejam retomadas. Esperamos poder compartilhar mais informações com nossos membros em breve.

Não há precedente na história recente de um problema global que tenha atingido o mundo todo ao mesmo tempo. Isto, obviamente, nenhum dirigente de nenhum segmento é capaz de prever. No seu caso, particularmente, como tem lidado com um desafio dessa magnitude? Tem procurado escutar quais pessoas antes de tomar uma decisão?

Estamos buscando sempre o melhor interesse do Movimento Paralímpico, mas, no que diz respeito aos Jogos, estamos numa operação que depende muito do Comitê Organizador, do governo do Japão e do Comitê Olímpico Internacional. Temos uma comunicação próxima e constante com esses parceiros. Em relação a quem tenho ouvido nesse momento, depende muito do assunto. Pode ser o Governing Board do IPC, como também o estafe do IPC, ou nosso Comitê de Classificação, Conselho de Atletas. Mas uma das coisas mais importantes é o exercício de conversar com todos os países e comitê paralímpicos nacionais de forma direta. Assim é possível ter uma perspectiva dos desafios de cada um e tomar melhores decisões que vão beneficiar um número maior de membros.

Descreva um pouco de sua rotina pessoal nesse momento. Como tem dividido seu tempo entre o trabalho e os cuidados com a família?

Minha rotina é uma não rotina. O que mudou inicialmente foi que eu tinha um número muito grande de viagens, mas tem sido uma época de muito trabalho. Principalmente com tudo o que envolveu o adiamento e a definição das novas datas dos Jogos. As reuniões quase sempre eram no horário da Europa, então tinha de acordar muito cedo para participar. Às vezes, também estou às 11 horas da noite falando com comitês paralímpicos da Ásia, por exemplo. Por isso, digo que essa rotina é uma não rotina, algo novo. Também tenho procurado estar mais próximo dos comitês paralímpicos nacionais. É um exercício de falar com praticamente todos os países-membros, de todos os continentes, para entender seus desafios. Isso toma bastante tempo, mas é fundamental. É para isso que o IPC existe. Somos uma organização que existe para servir seus membros. Ao mesmo tempo, também estou cuidando da família, saindo apenas para comprar comida e cuidando da educação da minha filha, para que estude nos horários corretos, faça as lições de casa. Por fim, também estou tentando manter atividades físicas regulares, até para ajudar no aspecto da saúde mental. Estamos fazendo todos nossa parte no que diz respeito à contenção do coronavírus.

Andrew comemora com a seleção brasileira de goalball masculina a classificação para a final em Londres, 2012. Foto: CPB


Que mensagem poderia transmitir aos atletas paralímpicos brasileiros nesse momento?

A minha mensagem é a de que a decisão de adiar os Jogos foi tomada pensando principalmente no bem-estar dos atletas, para que ninguém se sentisse obrigado a botar sua saúde em risco para treinar. Agora temos mais tempo para que eles possam se preparar e cuidar da sua saúde, que é a prioridade neste momento. A gente entende a frustração pelo adiamento dos Jogos, que também é nossa no IPC. Mas quando eles acontecerem ano que vem, vão continuar sendo incríveis. Serão Jogos que terão uma mistura muito grande da tradição japonesa com a tecnologia que é característica do país, junto com um desejo muito grande do Japão e do IPC de deixar um impacto de longo prazo para as pessoas com deficiência do mundo todo – não somente os atletas. Os Jogos terão um alcance jamais visto. Para se ter uma ideia, no Rio foram 12 as modalidades transmitidas ao vivo. Em Tóquio, serão 19 das 22 modalidades. A repercussão será muito maior. Agora queremos que os atletas possam cuidar da sua saúde e das suas famílias, mas serão Jogos incríveis e eles não perdem por esperar.

Acredita que, para os atletas, conquistar uma medalha em Tóquio trará uma satisfação em dobro: pelo feito esportivo e pela superação de atravessar este período da pandemia?

Claro que conquistar uma medalha é sempre um momento inesquecível na carreira de um atleta. Mas, sabendo que vamos ter deixado essa pandemia para trás e que a humanidade vai ter vencido um inimigo que é comum a todos os indivíduos do planeta Terra, sem dúvida, terá um gosto especial. A Cerimônia de Abertura de Tóquio terá um significado maior talvez do que dos Jogos anteriores, porque vai ser um momento de celebração de que nós vencemos. As pessoas com deficiência venceram, porque fizeram parte dessa vitória num momento que pôs toda a humanidade do mesmo lado. Acredito que será uma satisfação em dobro, tanto para os atletas quanto para suas famílias, que enfrentaram a ameaça desse vírus que impactou profundamente a vida pessoal de cada um.


Comunicação CBDV

Renan Cacioli

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