A 100 dias de Tóquio, saiba qual foi nossa primeira medalha paralímpica

A 100 dias de Tóquio, saiba qual foi nossa primeira medalha paralímpica

por Comunicação CBDV — publicado 2021/05/16 00:00:00 GMT-3, Última modificação 2022-03-10T14:47:43-03:00
Modalidades geridas pela CBDV já resultaram em 28 pódios; ex-judoca Jaime de Oliveira foi o pioneiro, em 1988

Por Comunicação CBDV
16/05/2021
São Paulo/SP

A partir deste domingo (16), faltarão exatamente 100 dias para o início dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, quando os atletas da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) lutarão para ampliar o legado do futebol de 5, goalball e judô na história do evento. Até hoje, essas três modalidades conquistaram 28 medalhas para o Brasil, sendo 22 do judô (quatro ouros, nove pratas e nove bronzes), quatro do fut5 (todas douradas) e duas com os rapazes do goalball (uma prata e um bronze).

A trajetória da Confederação em Paralimpíadas teve início na edição de estreia do judô na grade, em Seul, na Coreia do Sul, em 1988, com os homens – as mulheres seriam incluídas no evento apenas a partir de 2004, em Atenas. De Seul, três judocas brasileiros voltaram para casa com medalhas de bronze no peito: Jaime de Oliveira (até 60 kg), Júlio Silva (até 65 kg) e Leonel Cunha (acima de 95 kg).

Do trio, o primeiro atleta a sentir o gosto do pódio foi Jaime, na época com 18 anos de idade. "É uma sensação indescritível. Lembro-me até hoje de que cada atleta que ia ao pódio era acompanhado por uma criança com um buquê de flores. Chegando lá, depois que você recebia a medalha, a criança entregava esse buquê. Era a coroação de um trabalho", recorda-se o curitibano, hoje com 51 anos.

#Acessibilidade: foto da parte da frente da medalha de bronze de Seul 1988 traz os mascotes "Gomdoori", que são dois ursos correndo juntos com as pernas atadas um ao outro, em alto relevo, e o texto em inglês na parte de baixo "8º Jogos Paralímpicos - Seoul 1988". Acima, há um texto em braile.


Eram outros tempos do paradesporto. Como o próprio Jaime define, mais "românticos", o que na prática significava atletas sem a devida preparação para um torneio deste porte. No Brasil, a modalidade havia despontado no início da década. O primeiro campeonato nacional fora em 1986, em Brasília. Tudo aconteceu muito rápido. No ano seguinte, Jaime estava em Paris lutando no Mundial. O bronze garantiu seu passaporte para Seul.

"Era bem incipiente, não se compara com o que é hoje. Existiam iniciativas bem isoladas no Brasil, sabia-se de pessoas cegas que treinavam em academias, mas não havia aproximação, intercâmbio. A partir de 1985, começamos a ter os primeiros contatos. Houve um campeonato experimental na PUC de Curitiba com atletas de Curitiba e do Rio, do Benjamin Constant. Só depois do Brasileiro de 1986, em Brasília, que a coisa começou a evoluir", conta o ex-atleta, que se sagrou campeão nacional quatro vezes (1987, 1988, 1992 e 1995).

Se em território nacional ainda havia pouca informação, imagine o nível de conhecimento sobre os adversários de fora. Em Seul, Jaime não fazia a menor ideia de quem era o britânico Simon Jackson, então um garoto de 16 anos que conquistaria lá a primeira de suas três medalhas de ouro em Paralimpíadas – ganhou também um bronze – e entraria para o hall dos grandes do esporte.

"Era na hora mesmo. Hoje você tem Grand Prix, intercâmbios. Na época, o que se falava era dos judocas coreanos e japoneses. Contra o Simon, foi uma luta que durou mais ou menos um minuto e meio. Ele ganhou por ippon. Eu tentei de todas as formas, mas ele era muito técnico", relata. "Depois ganhei de dois franceses e perdi a luta para um canadense. Com as lutas que eu venci e a vitória do Simon na final, eu acabei levando o bronze."

#Acessibilidade: Simon Jackson está à esquerda da foto, com quimono azul, em exercício com um aluno que usa quimono banco. Simon tem a pele branca e tem a cabeça raspada.

Vida após o esporte

Jaime abandonou o judô cedo, aos 25 anos. Tentou a vaga para Atlanta 1996, mas perdeu a seletiva na Argentina, um ano antes, e achou que era hora de seguir outro rumo. Àquela altura, já havia perdido completamente a visão – nasceu com glaucoma e lutou a vida toda na categoria B2 (atletas com percepção de vultos).

Mas o esporte sempre esteve presente. Ainda nos tempos de judoca, competia também no atletismo como velocista. Depois da aposentadoria precoce, passou a se dedicar ao futebol de 5 e chegou a ganhar uma Série A em 2001, pela Adevipar, com direito a gol na decisão por pênaltis. Foi na Associação dos Deficientes Visuais do Paraná, por sinal, onde ele também atuou como dirigente.

Formado em psicologia, Jaime seguiu uma carreira voltada à militância e luta pelos direitos da pessoa com deficiência. Atualmente, é delegado titular do estado do Paraná na Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB). Em agosto, estará ligado nos judocas brasileiros que tentarão, em Tóquio, berço da modalidade, dar sequência à história que ele iniciou 33 anos atrás.

#Acessibilidade: foto do diploma que Jaime recebeu pela conquista em Seul onde consta o texto em inglês dizendo que ele foi premiado por sua participação nos Jogos Paralímpicos.

#Acessibilidade: foto da parte de trás da medalha de Seul, que traz em alto relevo o estádio olímpico e ramos de louros, além do logo do Comitê Paralímpico Internacional na época acima do texto "88 Seoul Paralympics".



Comunicação CBDV

Renan Cacioli

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